sexta-feira, 21 de março de 2008

GOIÂNIA - Menina de 12 anos torturada por empresária

Empresária Silvia Calabresi, acusada de torturar uma menina de 12 anos. Imagem retirada de: http://www.portalmaratimba.com/noticias/news.php?codnot=231535#

GOIÂNIA - Além de torturar a filha de criação, de 12 anos, a empresária Sílvia Calabrese Lima, 42, submetia a menina a um regime forçado de trabalho, no qual só permitia que ela dormisse quatro horas por dia. A agenda diária de tarefas está descrita num caderno apreendido pela polícia junto com outros objetos usados para torturar a vítima. As páginas mostram que a menina cumpria tarefas domésticas até 1h40m e recomeçava o trabalho às 5h40m. As anotações foram feitas pela empregada doméstica Vanice Maria Novais, de 26 anos, que supervisionava as tarefas.
A empresária e a doméstica foram presas na segunda, em flagrante, acusadas de tortura e cárcere privado. A menina foi achada graças a uma denúncia anônima amarrada e amordaçada na cobertura de Silvia, num bairro nobre de Goiânia. Em depoimento, a vítima contou que morava lá há dois anos e que era forçada a fazer os serviços da casa: lavava, passava e fazia faxina. Quando não conseguia executar o trabalho, contou, era torturada com arames, alicate, afogamentos e ferro quente. A vítima disse que, pouco antes de ser libertada, foi amarrada porque não secou o banheiro.
Nesta terça, as duas acusadas foram transferidas da delegacia para um casa de custódia. Como Silvia não tem curso superior, ficará numa cela comum, mas sozinha, para não ser linchada. Se condenadas, as duas podem pegar até 24 anos de prisão. Durante a transferência, a empresária tentou jogar a culpa na empregada.
- Ela (a empregada) falava assim: "tem que fazer isso com a menina, porque senão ela vai virar bandida. Ela ficava me induzindo - disse.
A empregada negou. E alegou que apenas cumpria ordens da patroa:
- Ela quer me culpar, mas eu nunca bati na menina. Não a denunciei porque ela me chantageava.
Segundo a delegada do caso, Adriana Accorsi, a menina disse que chegou a ficar até três dias sem comer e que chegou a ser forçada a ingerir fezes e urina de cachorro. Disse também que a empresária costumava passar pimenta em seus olhos e boca. A tortura teria começado há cerca de seis meses.
O caso chocou a cidade. Nesta terça, a menina, que está em um abrigo, recebeu roupas e brinquedos, entre eles uma bicicleta que ela revelou ser o "presente de seus sonhos". Um empresário prometeu bancar os estudos dela até a faculdade. A menina não freqüenta a escola desde o ano passado porque foi reprovada por faltas. Ela também recebeu nesta terça a visita dos pais biológicos, Lourenço Rodrigues Ferreira, que mora em Goiânia, e Joana D'Arc da Silva, que vive em Pires do Rio, interior do estado.
O casal prestou depoimento e ambos alegaram desconhecer as torturas. O pai garantiu que não autorizou a "doação" da filha. Ele disse que várias vezes tentou visitá-la, mas foi impedido pela empresária.
- A empregada sempre dizia que ela não estava em casa - declarou.
O juiz da Infância e Juventude de Goiânia, Maurício Porfírio Rosa, afirmou que aguarda as investigações da polícia para decidir se devolverá a criança aos pais.
- Ela já disse que quer morar com o pai. A princípio, achamos que ele tem esse direito - afirmou.
A delegada ainda avalia se a mãe da menina será indiciada por omissão. A polícia apurou que a dona de casa recebeu dinheiro para deixar a filha com a empresária.
A polícia investiga a hipótese de que a adolescente seria a terceira vítima da violência de Sílvia Calabrese. Nesta terça, a mãe de uma menina de 11 anos procurou a delegacia e disse que a filha também foi torturada pela empresária quando tinha 5 anos. Ela disse ter reconhecido a acusada na televisão. A menina tem cicatrizes de queimaduras nas mãos e teve parte dos cabelos arrancados. Na época, a empresária chegou a ser denunciada, mas o processo foi arquivado por falta de provas. Outra vítima, uma manicure, de 22 anos, foi à delegacia e disse ter sido torturada pela empresária quando tinha 15 anos.
A polícia também investiga a participação do marido da empresária, engenheiro Marco Antônio Calabrese, nos crimes. O advogado dele, Darlan Alves Ferreira, esteve na delegacia e disse que seu cliente se apresentará espontaneamente à polícia ainda nesta quarta-feira. Segundo Darlan, Calabrese admitiu que sabia de "alguns fatos", mas que não denunciou porque não teve coragem de "ir contra a mulher". O engenheiro é dono de uma construtora em Goiânia.

Plantão Publicada em 18/03/2008 às 20h12mIsonilda Souza - Especial para o Globo Retirado de: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/03/18/empresaria_goiana_submetia_menina_trabalhos_forcados_pode_ter_torturado_outras_jovens-426295820.asp



Pai biológico, Lourenço Rodrigues Ferreira, 33 anos, e a adolescente, 12 anos, se abraçam. Imagem: Matéria de 18-03-08: http://www.cidadeverde.com/geral_txt.php?id=13763

BRASÍLIA - A menina de 12 anos que era torturada pela empresária da construção civil de Goiânia Silvia Calabrese acusou nesta quinta-feira em entrevista o marido dela, o engenheiro Marco Antônio Calabrese, de ser conivente com os crimes. Ela relatou que em uma ocasião foi vista por ele amordaçada, limpando o banheiro do apartamento em que era mantida presa, e o pediu ajuda. Segundo a menina, o engenheiro teria tentado tirá-la do apartamento, mas a pedido da mulher voltou atrás.

Na quarta, em depoimento à polícia, o engenheiro se disse surpreso com a denúncia contra sua mulher e negou que tivesse conhecimento das torturas a que a menina vinha sendo submetida. Admitiu que viu o dente dela quebrado e que ela fazia trabalhos domésticos, mas ressalvou que nunca presenciou a violência porque viajava muito. Segundo a delegada Adriana Accorsi, ele será indiciado por omissão. A pena prevista é de quatro anos.

A menina foi nesta quinta ao Fórum de Goiânia e reiterou as denúncias contra Silvia Calabrese, presa em flagrante na última segunda-feira. Em companhia do juiz da Infância e Juventude, Maurício Porfírio Rosa, ela falou em videoconferência aos jornalistas e afirmou que "tem dó e não deseja nada de mal para Sílvia". O juiz informou que está avaliando se entregará a menina aos pais biológicos e o retorno dela à escola, na próxima semana. O juiz disse que a vontade da menina irá pesar na decisão.

Também nesta quinta, a mãe adotiva da agressora, uma professora aposentada, de 82 anos, foi localizada e se disse "chocada" com a violência praticada pela filha. A professora, que pediu para não ter o nome divulgado, contou que adotou Silvia quando ela tinha 12 anos. Ontem à tarde, ela foi levada pelo filho biológico para uma cidade do interior para ser poupada das repercussões do crime pela imprensa.

- É um animal quem faz isso - afirmou ela, em entrevista a uma emissora local.

Apesar da afirmação, a aposentada, que morava há quatro anos no apartamento de Sílvia, contou ter visto os sinais de maus-tratos no corpo da menina - a língua mutilada e um dente quebrado -, mas afirmou que não presenciou a violência.

- Ela levava (a menina) para o quarto, trancava a porta para bater e a gente não ouvia nada - descreveu.

A professora afirmou que, às escondidas, chegou a dar restos de sua comida para a menina, que ficava dias sem comer:

- Um dia a Sílvia descobriu e se zangou demais comigo. Disse que estava punindo a menina e a melhor forma era deixar com fome para ver se ela se corrigia.

A aposentada contou que Silvia era muito nervosa e atribuiu o descontrole emocional da empresária à sua infância conturbada. De acordo com a mãe adotiva, Sílvia ficou órfã ainda criança e, como seus familiares eram muito pobres, a colocaram num orfanato, em Goiânia. Ela teria passado por três abrigos e chegou a ser expulsa de um deles, até chegar à instituição (hoje uma creche) onde a aposentada atuava como voluntária, em 1976.

Na época, Silvia tinha 12 anos e foi acolhida pela professora que já tinha três filhas adotivas, além do filho biológico.

- Sempre tratei todos com amor e carinho, nunca dei esse exemplo - disse.

Plantão Publicada em 20/03/2008 às 20h59m - Isonilda Souza - Especial para O Globo: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/03/20/marido_de_empresaria_goiana_sabia_de_torturas_diz_menina-426427018.asp

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